Peregrinos

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A espiritualidade segundo Marcos - Parte I


Falar de espiritualidade neste mundo do século XXI é falar de um tema cuja relevância salta aos olhos. Diante de uma sociedade faminta por significado existencial, sedenta pelas coisas da alma humana e cada vez mais curiosa sobre Deus, é fundamental que a Igreja de Cristo não se furte a ensinar e pregar as Sagradas Escrituras.
Na verdade, isso sempre foi necessário desde a proclamação do célebre “Ide” – mas há hoje uma urgência contemporânea pela anunciação das boas novas do Evangelho, porque somos cercados por “espiritualidades” que, ignorando a pessoa de Jesus, desenvolvem-se a partir das muitas e variadas experiências de cada um. Sabemos que o Espírito Santo, ao longo de toda a Bíblia, fornece ao homem o mapa da verdadeira espiritualidade. As histórias que ela conta nos convidam a um outro mundo que não o nosso – um mundo maior que nós mesmos. As histórias bíblicas nos convidam ao mundo da criação, da salvação e da bênção de Deus.
Evidentemente, todo o cânon sagrado é um texto integral – mas o evangelho de Marcos, o segundo livro do Novo Testamento, tem certa primazia. Afinal, ninguém nunca havia escrito um evangelho cristão quando Marcos escreveu o dele. Com isso, criou um novo gênero. Sua forma de escrever que logo se tornou fundamental e formativa para a vida da Igreja e do cristão. Isso veio contrastar com a preferência antiga pela criação de mitos, prática que reduzia os humanos a meros espectadores do sobrenatural. Também vai de encontro à predileção moderna pela filosofia moral, concepção que nos torna responsáveis por nossa própria salvação.
A história narrada no evangelho segundo Marcos é o relato verbal da realidade que, como seu assunto – a Encarnação – é, ao mesmo tempo, divina e humana. Ela revela algo que jamais concluiríamos por nossa própria observação, experiência ou suposição; e, ao mesmo tempo, nos envolve, colocando-nos na ação como receptores e participantes, sem jogar para nós a responsabilidade de fazer tudo dar certo. As implicações disso para nossa espiritualidade são enormes, já que a forma, por ela mesma, nos protege das duas principais práticas que levam a pessoa a se afastar do caminho certo: a de viver como espectador leviano dos fatos, exigindo sempre atrativos novos e mais exóticos vindos do céu; ou como moralista ansioso, aquele que toma sobre seus ombros todas as cargas do mundo. A própria forma do texto molda em nós reações que tornam muito difícil sermos simples espectadores ou moralistas. Não estamos diante de um texto que podemos dominar. Pelo contrário – somos dominados por ele.
A espiritualidade é a atenção que damos à alma, ao mundo interior invisível de nossa vida – um mundo que é a essência de nossa identidade, esta alma à imagem de Deus que engloba toda nossa individualidade e glória. A espiritualidade pode parecer uma coisa maravilhosa, mas vinte séculos de experiência cristã diminuíram bastante o entusiasmo que ela outrora provocava. E sua prática não se mostra tão maravilhosa. Olhando para nossa história, não nos admiramos ao verificar que a espiritualidade costuma ser vista com desconfiança, quando não com hostilidade declarada. Isso acontece porque, na prática, e com muita freqüência, ela se transforma em neurose. Em nossos dias, temos visto a espiritualidade – ou uma suposta espiritualidade – descambar para o egoísmo, principalmente quando vira mera pretensão.

2 comentários:

  1. Amém!
    'Obrigada pela letra grande!'

    Deus abençoe!

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  2. rs... nossa intenção é facilitar a leitura de nossos "peregrinos"

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