Peregrinos

sábado, 29 de janeiro de 2011

Série Peregrinos: Erasmo de Roterdã


Erasmo de Roterdão (português europeu) ou Roterdã (português brasileiro) (nascido Gerrit Gerritszoon ou Herasmus Gerritszoon; em latim: Desiderius Erasmus Roterodamus; Roterdão, 27 de Outubro de 1466 — Basileia, 12 de Julho de 1536) foi um teólogo e um humanista neerlandês.
Erasmo, com efeito, cursou o seminário com os monges agostinianos e realizou os votos monásticos aos 25 anos, a viveu como tal, sendo inclusive um grande crítico da vida monástica e das características que julgava negativas na Igreja Católica.
Frequentou o Collège Montaigu, em Paris, e continuou os seus estudos na Universidade de Paris, então o principal centro da escolástica, apesar da influência crescente do Renascimento da cultura clássica, que chegava de Itália. Erasmo optou por uma vida de académico independente, independente de país, independente de laços académicos, de lealdade religiosa, e de tudo que pudesse interferir com a sua liberdade intelectual e a sua expressão literária.
Os principais centros da sua actividade foram Paris, Lovaina, Inglaterra e Basileia. No entanto, nunca pertenceu firmemente a nenhum destes sítios. O seu tempo em Inglaterra foi frutuoso, tendo feito amizades para a vida com os líderes ingleses, mesmo nos dias tumultuosos do rei Henrique VIII: John Colet, Thomas More, John Fisher, Thomas Linacre e Willian Grocyn. Na Universidade de Cambridge foi o professor da divindade de Lady Margaret e teve a opção de passar o resto de sua vida como professor de inglês. Ele esteve no Queens' College, em Cambridge e é possível que tenha sido alumnus.
Foram-lhe oferecidas várias posições de honra e proveito através do mundo académico, mas ele declinou-as todas, preferindo a incerteza, tendo no entanto receitas suficientes da sua actividade literária independente.
Entre 1506 e 1509 esteve em Itália. Passou ali uma parte do seu tempo na casa editorial de Aldus Manatius em Veneza. Apesar disto, teve uma associação com académicos italianos menos activa do que se esperava.
A sua residência em Lovaina expôs Erasmo a muitas críticas mesquinhas por parte daqueles que eram hostis aos princípios do progresso literário e religioso aos quais ele devotava a vida. Ele interpretava esta falta de simpatia como uma perseguição e procurou refúgio em Basileia, onde, sob abrigo de hospitalidade suíça, pôde expressar-se livremente e onde estava rodeado de amigos. Foi lá que ele esteve associado por muitos anos com o grande editor Froben, e aonde uma multidão de admiradores de (quase) todos os cantos da Europa o vieram visitar.
O movimento de Martinho Lutero começou no ano seguinte à publicação do Novo Testamento, e foi um teste ao carácter de Erasmo. A discussão entre a sociedade europeia e a Igreja Católica Romana tinha-se tornado tão aberta que poucos se podiam furtar a um pedido de uma opinião. Erasmo, no auge da sua fama literária, foi inevitavelmente chamado a tomar partido por um dos lados, mas partidarismo era algo de estranho à sua natureza e hábitos.
Em toda a sua crítica às tolices clericais e aos abusos, ele tinha sempre afirmado que não estava a atacar as instituições da Igreja em si e não era um inimigo do clero. O mundo inteiro tinha rido com as suas sátiras, mas poucos interferiram com as suas actividades. Ele acreditava que o seu trabalho até então o recomendava às melhores mentes e aos poderes dominantes no mundo religioso.
Erasmo tinha uma simpatia pelos pontos principais da crítica luterana à Igreja. Tinha um grande respeito pessoal por Martinho Lutero e Lutero sempre falava de Erasmo com reverência pelo seu conhecimento. Lutero esperava obter a sua cooperação num trabalho que parecia o resultado natural do seu próprio. Na sua troca de correspondência inicial, Lutero expressou uma intensa admiração por tudo o que Erasmo tinha feito pela causa de um cristianismo saudável e razoável e encorajou-o a unir-se ao movimento.
Erasmo declinou qualquer compromisso, argumentando que ao o fazer estaria a colocar em risco a sua posição como líder de um movimento por uma sabedoria pura, o que ele via como o objectivo de sua vida. Apenas como um académico independente poderia ele aspirar a influenciar a reforma da religião. A obra de Lutero foi a de providenciar uma nova base doutrinal para as tentativas até então dispersas de iniciar uma reforma. Ao reavivar os princípios quase esquecidos da teologia de Agostinho, Lutero tinha fornecido o necessário impulso para o interesse pessoal na religião, o que é a essência da Reforma Protestante. Erasmo, no entanto, temia qualquer mudança na doutrina e acreditava que não havia espaço dentro das fórmulas existentes para o tipo de reforma que ele apreciava tanto.
Por duas vezes durante o debate, ele entrou no campo da controvérsia doutrinal, uma área que era estranha à sua natureza e práticas prévias. Um dos tópicos com que lidou foi a liberdade da vontade, um ponto crucial. No seu "De libero arbitrio diatribe sive collatio" (1524), ele analisa com inteligência e bom humor os exageros Luteranos sobre as óbvias limitações da liberdade humana. Ele apresenta ambos os lados da discussão de forma imparcial. A sua posição foi de que o Homem estava obrigado a pecar, mas que tinha o direito à misericórdia de Deus apenas se ele a procurasse pelos meios que lhe eram oferecidos pela própria Igreja. A "diatribe" não encorajava qualquer acção definida; este era o seu mérito aos olhos dos Erasmianos e o seu defeito aos olhos dos Luteranos.
Quando Erasmo hesitou em apoiá-lo, isto pareceu aos olhos de Lutero, um homem directo, um evitar de responsabilidade que era devido ou a cobardice ou a falta de visão. No entanto, o lado Católico Romano, que pretendia igualmente manter o apoio de um homem que se tinha declarado tantas vezes como leal aos princípios da Igreja, viu na relutância de Erasmo em tomar partido um sinal de suspeita da deslealdade perante o Catolicismo. A atitude de Erasmo para com a Reforma Protestante pode no entanto ser vista como consistente.
Os males que ele combateu foram os de forma ou foram males de um tipo curável apenas por uma longa e lenta regeneração na moral e vida espiritual na Europa. O programa da "Reforma de Erasmo" era de usar a aprendizagem para remover os piores excessos. No entanto, falhou em oferecer qualquer método tangível para aplicar os seus princípios ao sistema da Igreja existente. Quando Erasmo foi acusado de ter "posto o ovo que Lutero chocou" ele admitiu parcialmente a verdade da acusação mas disse que tinha esperado uma outra espécie de pássaro completamente diferente.
À medida que a opinião pública começa a reagir às opiniões de Lutero, as desordens sociais que Erasmo temia começaram a aparecer. A Guerra dos Camponeses, os distúrbios do Anabaptistas na Alemanha e nos Países Baixos, iconoclastia e radicalismo por toda a parte, parecem confirmar as suas previsões mais obscuras. Se este era o resultado da reforma, ele preferia estar de fora. No entanto, ele começava a ser acusado cada vez mais pela "tragédia". Na Suíça, ele estava ainda mais exposto pela sua associação com homens que eram suspeitos de doutrinas extremamente racionalistas.
A questão-teste era a doutrina dos Sacramentos, e o cerne da questão a observância da Eucaristia. Em parte para livrar-se de suspeitas, Erasmo publicou em 1530 uma nova edição do tratado ortodoxo de Algerus contra o herético Berengar de Tours no século XI. Ele acrescentou uma dedicatória, afirmando acreditar na realidade do corpo de Jesus Cristo após a bênção na Eucaristia, mas admitia que a forma em que este mistério deveria ser expressa fosse matéria de debate. Era-lhe aceitável que a Igreja pregasse a doutrina à maioria dos cristãos e a especulação ficasse mais segura nas mãos dos filósofos. Aqui e acolá Erasmo aponta o princípio de que um homem pode ter duas opiniões sobre assuntos religiosos, uma para si mesmo e seus amigos mais íntimos e outra para o público. Aqueles que se opunham aos Sacramentos, liderados por Oecolampadius de Basileia, estavam, como Erasmo diz, mencionando-o como alguém com ideias semelhantes. Ele nega isto, mas na sua negação traiu aquilo que em conversas particulares é tido como uma visão racional da doutrina da Eucaristia. Tal como no caso da vontade livre, não tinha aqui a aprovação da Igreja.

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