Peregrinos

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Série Peregrinos: Ireneu


Santo Ireneu de Lião, em grego Εἰρηναῖος [pacífico], em latim Irenaeus, (ca. 130 — 202) foi um Padre grego, teólogo e escritor cristão que nasceu, segundo se crê, na província romana da Ásia Menor Proconsular - a parte mais ocidental da actual Turquia - provavelmente Esmirna (atual Izmir, na Turquia).
O livro mais famoso de Ireneu, Sobre a detecção e refutação da chamada Gnosis, também conhecido como "Contra Heresias" ou Adversus Haereses (ca. 180 dC) é um ataque minuciosos ao Gnosticismo, que era então uma séria ameaça à Igreja primitiva e, especialmente, ao sistema proposto pelo gnóstico Valentim. Como um dos primeiros grandes teólogos cristãos, ele enfatizava os elementos da Igreja, especialmente o episcopado, as Escrituras e a tradição. Ireneu escreveu que a única forma de os cristãos se manterem unidos era aceitarem humildemente uma autoridade doutrinária dos concílios episcopais.
Seus escritos, assim como os de Clemente e Inácio, são tidos como evidências iniciais da primazia papal. Ireneu foi também a testemunha mais antiga do reconhecimento do caráter canônico dos quatro evangelhos[3].
A Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa consideram-no santo, comemorado, pela primeira, a 28 de Junho e pela última a 23 de Agosto.
Há escassa informação sobre sua vida e muitas coisas são pouco exatas. Teria nascido na Asia proconsular, pelo menos em alguma província em seu limite, na primeira metade do século II. Não se sabe a data certa de seu nascimento. Está entre os anos 115 e 125, ou entre 130 e 142 segundo outros autores.
O que é certo é que, ainda muito jovem, tinha visto e escutado em Esmirna o bispo São Policarpo (?-155) o qual, que, por sua vez, segundo uma tradição atestada por Papias, fora discípulo de João Evangelista. Durante a perseguição ordenada por Marco Aurélio, Ireneu era sacerdote na igreja de Lyon naquela época chamada Lugdunum, na Gália. O clero da cidade, muitos dos quais presos por testemunharem sua Fé, o enviou (em 177 ou 178) a Roma, com carta ao papa Eleutério sobre o Montanismo, testemunhando de seus muitos méritos. De retorno à Gália, Ireneu sucedeu o mártir São Potínio como bispo de Lyon.
Durante a trégua religiosa subsequente à perseguição de Marco Aurélio, o novo bispo dividiu seu tempo entre deveres como pastor e missionário (do que temos poucas e incertas informações) e os seus escritos, quase todos dirigidos contra a heresia do Gnosticismo, que começava a se espalhar pela Gália. Neste sentido, sua obra mais famosa é chamada de Contra Heresias (Adversus haereses). Em 190 ou 191, intercedeu junto ao Papa Vitor para suspender a sentença de excomunhão imposta sobre as comunidades de cristãos na Ásia Menor, que continuavam as práticas dos quartodecimanos - que desejavam celebrar a Páscoa segundo a tradição judaica.
Ignora-se a data de sua morte, que deve ter ocorrido no fim do século II ou início do século III. Apesar de alguns testemunhos isolados e tardios nesse sentido, é improvável que tenha terminado sua vida num martírio. Ele morreu por volta de 202 d.C. quando do reinado de Setímio Severo ou nas mãos de hereges. Ele foi enterrado sob a igreja de São João em Lyon, que foi posteriormente renomeada "Santo Ireneu" em sua homenagem. Porém, o túmulo e seus restos foram completamente destruídos em 1562 pelos huguenotes.
Ireneu escreveu em grego a sua obra, que lhe assegurou lugar de prestígio excepcional na literatura cristã devido, não só, às questões religiosas controversas de importância capital que abordou, bem como por mostrar o testemunho de um contemporâneo das primeiras gerações cristãs. Nada do que escreveu chegou a nós no texto original, mas muitos fragmentos existem e citações em escritores posteriores como Hipólito de Roma e Eusébio de Cesareia.
Duas de suas principais obras chegaram até aos dias de hoje em suas versões latinas e arménias: a primeira é a "Exposição e refutação do pretenso conhecimento", em português conhecida como "Contra Heresias" por ser frequentemente conhecida e citada pelo seu nome latino de "Adversus Haereses".
É uma obra para combater o Gnosticismo. Em seus cinco livros, expõe de início as doutrinas gnósticas, com referências às suas distintas seitas e escolas nascidas nas comunidades cristãs. Ao refutar as versões mais importantes (de Valentim, de Basilides e de Marcião) Ireneu frequentemente opõe a elas a verdadeira doutrina da Igreja da sua época, dando-nos, deste modo - pelo seu recurso à razão, à doutrina da Igreja e à Bíblia -, testemunhos indirectos e directos relevantes acerca do que então era tido como a "doutrina eclesiástica" pois . Aborda, ainda, passagens muito comentadas pelos teólogos que dizem respeito ao Evangelho de João, à Eucaristia e à primazia da Igreja Romana. Ireneu termina esta obra defendendo a ressurreição da carne, escândalo máximo para os gnósticos. Dos originais restaram fragmentos, e há traduções latinas e armênias. No livro I, Ireneu fala sobre os valentianos e seus precursores, cujas raízes vão até Simão Mago. No segundo livro, ele tenta provar que o valentianismo não tem mérito algum em suas doutrinas. Já no terceiro livro, Ireneu propõe que essas doutrinas são falsas com base em evidências obtidas dos Evangelhos. No livro quarto, Ireneu reforça a união do Antigo Testamento e os Evangelhos ao mesmo tempo que fornece um conjunto de ditos de Jesus. No último livro, ele se concentra em mais ditos de Jesus e também em cartas de Paulo de Tarso
Até a descoberta, em 1945, da chamada Biblioteca de Nag Hammadi, esta obra de Ireneu era a melhor descrição das correntes gnosticas do início da era cristã. De acordo com alguns estudiosos bíblicos, os achados de Nag Hammadi demonstraram que as descrições de Ireneu sobre o Gnosticismo são muito incorretas e polêmicas em sua natureza. Embora correto em alguns detalhes sobre as crenças dos diversos grupos, o principal objetivo de Ireneu era advertir os cristãos contra o Gnosticismo ao invés de descrever corretamente suas crenças. Ele descreveu os grupos gnósticos como libertinos, por exemplo, quando algumas de suas próprias obras advogavam a castidade com mais fervor do que as ortodoxas. Porém, pelo menos um estudioso, Rodney Stark, alega que a mesma Biblioteca de Nag Hammadi prova que Ireneu estava correto.
Parece que a crítica de Ireneu contra os gnósticos era exagerada, o que provocou sua rejeição pelos estudiosos por um longo tempo. Como exemplo, ele escreveu: {{citação2| Eles declaram que Judas, o traidor, era perfeitamente familiar com estas coisas e que, ele, sozinho, sabendo da verdade como ninguém mais, realizou o mistério da traição. Através dele todas as coisas foram então atiradas em confusão. Eles então produziram uma história fictícia deste tipo, que chamaram de Evangelho de Judas. Estas alegações se mostraram verdadeiras no texto do Evangelho de Judas, onde Jesus pediu à Judas o traísse. Sobre as incorreções de Ireneu sobre as libertinagens sexuais entre os gnósticos, é claro que eles não eram um grupo coeso, mas um conjunto de seitas. Alguns eram realmente libertinos, considerando a existência corporal como sem nenhum sentido. Outros, pelo mesmo motivo, prezavam a castidade ainda mais fortemente que a cristandade, chegando ao ponto de banir o casamento e toda atividade sexual
A sua segunda obra é a "Exposição ou Prova do Ensinamento Apostólico", breve texto, cujo conteúdo corresponde na perfeição ao seu título. Há dela uma muito antiga tradução, literal, em ]]língua armênia|armênio]] descoberta em 1904. Ireneu não quer nela refutar as heresias, mas confirmar aos fiéis a exposição da doutrina cristã, sobretudo ao demonstrar a verdade do Evangelho por meio de profecias do Velho Testamento. Embora não contenha nada do que já não tenha sido dito em "Adversus Haereses", é um documento de grande interesse e magnífico testemunho da fé profunda e viva de Ireneu.
Do restante da sua obra seguinte, apenas existem fragmentos espalhados. Muitos só se conhecem por menção a eles feita por outros escritores. São eles:

* um tratado contra os gregos, intitulado "Sobre o Conhecimento", mencionado por Eusébio de Cesareia
* um documento dirigido ao sacerdote romano Florinus "Sobre a Monarquia, ou como Deus não é a causa do Mal" com fragmento na "História Eclesiástica" de Eusébio
* um documento "Sobre Ogdoad", provavelmente contra a "Ogdóade" do gnóstico Valetim escrito para o mesmo supra-citado sacerdote Florinus, que aderira à seita dos valentianos do qual há fragmento em Eusébio
* um tratado sobre o cisma dirigido a Blastus (mencionado por Eusébio)
* uma carta ao Papa Vítor contra o sacerdote romano Florinus (fragmento em siríaco)
* outra carta ao mesmo papa sobre a controvérsia pascal (da qual há trechos em Eusébio)
* cartas a vários correspondentes sobre o mesmo tema (mencionadas por Eusébio; fragmento preservado em siríaco)
* um livro com numerosos discursos, provavelmente uma coleção de homilias (mencionado por Eusébio)

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