Peregrinos

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Série Peregrinos: Tertuliano


Quintus Septimius Florens Tertullianus, conhecido como Tertuliano (ca. 160 - ca. 220 dC) foi um prolífico autor das primeiras fases do Cristianismo, nascido em Cartago na província romana da África. Ele foi um primeiro autor cristão a produzir uma obra literária (corpus) em latim. Ele também foi um notável apologista cristão e um polemista contra a heresia.
Embora conservador, ele organizou e avançou a nova teologia da Igreja antiga. Ele é talvez mais famoso por ser o autor mais antigo cuja obra sobreviveu a utilizar o termo "Trindade" (em latim: Trinitas)[a] e por nos dar a mais antiga exposição formal ainda existente sobre a teologia trinitária. É um dos Padres latinos.
Algumas das idéias de Tertuliano não eram aceitáveis para os ortodoxos e, no fim de sua vida, ele se tornou um montanista.
Pouquíssima informação confiável existe para nos informar sobre a vida de Tertuliano. A maior parte do que sabemos sobre ele vem seus próprios escritos.
De acordo com a tradição, ele foi criado em Cartago e acreditava ser o filho de um centurião romano, um advogado treinado e um padre ordenado. Estas assertivas se baseiam principalmente em Eusébio de Cesareia na sua História Eclesiástica (livro II, cap 2) e em São Jerônimo, em De Viris Illustribus (cap. 53). Jerônimo alegou que o pai de Tertuliano tina a posição de centurio proconsularis no exército romano na África. Porém, não está claro se esta posição sequer existiu nas forças militares romanas.
Adicionalmente, acredita-se que Tertuliano foi um advogado por causa do uso que ele faz de analogias legais e de uma identificação dele com o jurista Tertulianus, que foi citado no "Digesta seu Pandectae". Embora Tertuliano utilize conhecimentos da lei romana em seus escritos, seu conhecimento legal não é - de forma demonstrável - superior ao que se esperaria de um romano com educação suficiente. Dos escritos de Tertulianus, um advogado com o mesmo cognome, existem apenas fragmentos e eles não demonstram uma autoria cristã. E Tertulianus só foi confundido com Tertuliano muito depois, por historiadores cristãos. Finalmente, também é questionável se ele era ou não um padre. Em suas obras sobreviventes, ele jamais se descreve como ordenado pela Igreja e parece se colocar como leigo em trechos de "Exortação à Castidade" e "Sobre a Monogamia".
A África era famosa por ser terra de oradores. Esta influência pode ser percebida no estilo de Tertuliano, permeado de arcaísmos e provincialismos, suas imagens brilhantes e o seu temperamento apaixonado. Ele era um estudioso de grande erudição, tendo escrito pelo menos dois livros em grego. Neles, ele se refere a si mesmo, mas nenhum sobreviveu até hoje. Sua principal área de estudo era a jurisprudência e sua forma de raciocinar revela algumas marcas de um treinamento jurídico mais formal.
Sua conversão ao Cristianismo aconteceu por volta de 197-198 (de acordo com Adolf Harnack, Bonwetsch e outros), mas seus antecedentes imediatos são desconhecidos, exceto o que pode ser conjecturado a partir de seus escritos. O evento deve ter sido repentino e decisivo, transformando de uma vez sua própria personalidade. Ele escreveu que não podia imaginar uma vida verdadeiramente cristã sem um ato consciente e radical de conversão:

“ Nós somos da mesma laia e natureza: cristãos são feitos e não nascidos ”

— Apologia, Tertuliano

Dois livros endereçados à sua esposa confirmam que ele foi casado com cristã.
No meio de sua vida (por volta de 207 dC), ele foi atraído pela "Nova profecia" do Montanismo e parece ter deixado o ramo principal da Igreja. No tempo de Santo Agostinho, um grupo de "tertulianistas" ainda tinham uma basílica em Cartago que, nesta mesma época, passou para a Igreja. Não sabemos se esta é apenas uma outra denominação para os montanistas e se significa que Tertuliano rompeu também com os montanistas e fundou seu próprio grupo. Tertuliano tinha um temperamento violento e enérgico, quase fanático, lutador empedernido e muitos dos seus escritos são polémicos. Este temperamento, impressionado com o exemplo dos mártires, que o levou à conversão, permite compreender a sua passagem ao montanismo.
Jerônimo diz que Tertuliano morreu com idade bastante avançada, mas não há outra fonte confiável que ateste sua sobrevivência além do ano estimado de 220 dC. À despeito de seu cisma com a ortodoxia da Igreja, ele continuou a escrever contra as heresias, especialmente o Gnosticismo. Assim, através de suas obras doutrinárias que publicou, Tertuliano se tornou professor de Cipriano de Cartago e o predecessor de Santo Agostinho que, por sua vez, se tornou o principal fundador da teologia latina.
Apesar de ser considerado por muitos o fundador da teologia ocidental, a verdade é que tal designação é exagerada, porque Tertuliano não tem propriamente um sistema teológico. De facto, para isso faltou-lhe o equilíbrio necessário para organizar os vários artigos da fé, assim como a preocupação pela coerência, pois não era do seu interesse conciliar a fé com a razão humana.
Para Tertuliano, a questão das relações entre a fé e a filosofia nem sequer se colocavam, pois entre ambas nada existia de comum. A filosofia era vista como adversária da fé, e os filósofos antigos como patriarcas dos hereges. Para ele, de facto, fé e razão opõem-se, e podemos encontrar na filosofia a origem de todos os desvios da fé. No entanto, é forçado a reconhecer que algumas vezes os filósofos pensaram como os cristãos, e denuncia algumas influências de correntes filosóficas antigas, nomeadamente do Estoicismo. É bem conhecida a frase credo quia absurdum. Apesar de ela não se encontrar nos escritos de Tertuliano, mas apenas algumas semelhantes, ela condensa bem o seu pensamento acerca da razão. Note-se que o seu significado é não apenas "creio embora seja absurdo", mas sim "creio porque é absurdo". A verdadeira fé tem de se opor à razão.

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